Ryanair agora quer economizar copilotos


Mesmo quem nunca usou seus serviços provavelmente já ouviu falar da Ryanair, a companhia aérea de baixo custo que simplesmente se transformou na maior da Europa em volume de passageiros transportados. Pois uma das maiores estratégias promocionais da empresa é usar seu diretor-executivo, o irlandês Michael O'Leary, em factoides que levantam sobrancelhas ao redor do mundo.

Foi ele quem andou falando tanto na ideia de cobrar um euro pelo uso dos banheiros nos voos e quem também especulou sobre um futuro em que passageiros poderiam pagar ainda mais barato que a média de 33 euros por passagem para voos para cidades europeias e do norte da África caso se submetessem a um sistema de viagens em pé.

Mas o afã barateiro de O'Leary parece desdenhar um pouco dos limites da segurança. O irlandês agora pretende pedir autorização das autoridades aéreas europeias para acabar com a figura do copiloto nos voos de curta duração da Ryanair.

O argumento do diretor-executivo é que a tecnologia aérea atual faz dos copilotos figuras muito mais redundantes do que primordiais na operação de aeronave e que um dos comissiários de bordo poderia ocupar a função.

O'Leary (foto), por sinal, acredita que o copiloto nos voos modernos apenas serve para vigiar se o piloto não vai dormir e cair em cima dos controles.

Claro que a sugestão já foi torpedeada por associações de aeroviários e que a falta de um copiloto poderia sair pela culatra no que diz respeito a passageiros mais amedrontados - esse escriba aqui, por exemplo, não passaria nem perto de um avião comercial sem copiloto, ainda mais depois de ler o capítulo sobre desastres aéreos em ''Outliers'', de Malcolm Gladwell.

Mas o que O'Leary quer é aproveitar o máximo de oportunidades para mandar a mensagem subliminar de que voar pela Ryanair é barato.

O que nem sempre corresponde à verdade, diga-se de passagem: há uma série de taxas, que vão do uso de cartões de crédito para a compra da passagem à cobrança pelo despacho de bagagens, sem falar no uso de aeroportos longe de grandes centros. Em geral, porém, dá para encontrar barganhas do tipo Londres-Milão por US$ 40.

Até o uso de cadeira de rodas a Ryanair andou cobrando, para desespero das entidades de defesa do consumidor - durante a crise vulcânica, por exemplo, o irlandês também ameaçou não pagar indenizações aos passageiros.

Porém, os críticos de O'Leary têm de engolir batráquios diante da demanda pelos serviços da Ryanair, que espera em 2010 transportar nada menos que 67 milhões de passageiros. Ainda que se tratem de muitos clientes colocando o bolso à frente do orgulho.

Fernando Duarte - Londres
O Globo Online

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