Aéreas americanas suspenderam encomendas

Valor Econômico
Aéreas americanas suspenderam encomendas
De Fort Lauderdale, Flórida
28/06/2010

A Embraer está há dois anos sem receber novas encomendas das companhias aéreas dos Estados Unidos, mas os executivos da empresa veem alguma luz no fim do túnel a partir de 2011, quando a frota americana de aviões começará a ser renovada.

"Os aviões em operação nos Estados Unidos estão ficando muito antigos", afirma Bruce Peddle, vice-presidente da Embraer na América do Norte, responsável por vender aviões para as companhias aéreas da região. "Chegará a hora de serem trocados por aeronaves mais eficientes."

Esse ciclo de rejuvenescimento da frota de aviões, porém, tende a ocorrer em um ambiente mais competitivo. Nos próximos anos, é esperada a entrada nos Estados Unidos de novos fabricantes japoneses, russos e chineses na disputa por nichos hoje explorados basicamente pela brasileira Embraer e pela a canadense Bombardier. Outro fantasma é o risco de a americana Boeing e a europeia Airbus, que atuam no nicho de grandes aviões, começarem a fabricar aviões um pouco menores, concorrendo com Embraer e Bombardier.

Os Estados Unidos e o Canadá são, de longe, o mercado mais importante para a Embraer. Nas últimas duas décadas, a empresa entregou cerca de mil aviões para clientes que incluem a American Airlines, a US Airways, a Republic e a JetBlue. No segmento de aviões entre 30 e 120 lugares, a brasileira tem uma fatia de mercado de 45% nos Estados Unidos.

A Embraer cresceu graças à desregulamentação do mercado americano de aviação ocorrida nos últimos anos, que ampliou a competição no setor. Para baixar custos, as companhias aéreas concentraram os seus voos em alguns aeroportos mais importantes, usando aviões menores para distribuir os passageiros para aeroportos secundários. Paralelamente, cresceram os voos regionais, que fazem ligações diretas entre cidades de menor porte, operados com pequenos aviões.

Essa forte dependência do mercado americano, porém, deixa a Embraer suscetível aos solavancos da economia local. A crise atual fez com que a receita da companhia com a venda de aviões comerciais na América do Norte encolhesse de US$ 2,797 bilhões em 2008 para US$ 1,174 bilhão, em 2009.

Além da queda da demanda por voos, que fez as empresas aéreas congelarem as encomendas de novos aviões, o mercado americano pode sofrer consequências mais duradouras. As companhias estão comprando umas às outras, o que significa mais eficiência operacional e menor necessidade de novos aviões.

A Embraer vê a crise não como uma eliminação do mercado, mas apenas como o adiamento da demanda. O ciclo de renovação da frota de aviões esperado a partir de 2011, afirma Peddle, deve ser particularmente intenso no segmento de 120 assentos, no qual a Embraer tem alguns trunfos para competir.

Boa parte da frota em operação nesse nicho são aviões maiores, modelos Boeing 737 e Airbus 320, que foram adaptados pelos dois fabricantes para preencher essa lacuna de mercado. Funcionaram bem no passado como uma solução improvisada, mas terão dificuldades para competir daqui por diante.

"Oferecemos aviões que são desenhados para esse segmento de 120 assentos", afirma Peddle. "São bem mais eficientes do que adaptar um avião maior para esse segmento, como tradicionalmente a Boeing e a Airbus fizeram."

Mas, em outros segmentos, a Embraer deverá enfrentar concorrência mais acirrada. A japonesa Mitsubishi Regional Jet (MRJ) tenta entrar no segmento de mercado de jatos entre 70 e 90 assentos, com a promessa de uma turbina muito mais econômica do que as alternativas na praça.

Por enquanto, porém, a Mitsubishi vendeu esse novo jato apenas para uma empresa do próprio Japão e, nos Estados Unidos, tem apenas um entendimento preliminar, que ainda não foi sacramentado por meio de contrato. "Achamos que, em algum momento, eles vão conseguir entrar no mercado americano", afirma Peddle. "Certamente vão crescer como competidores."

Já a chinesa Avic e a russa Sokhoi devem levar um periodo mais longo para entrar nos Estados Unidos. Antes, essas duas empresas terão de provar dentro dos seus próprios mercados locais que desenvolveram produtos e serviços competitivos.

Mesmo que o mercado americano se recupere, a expectativa da Embraer é se tornar menos dependente do mercado de aviação comercial americano. Primeiro, porque a companhia está diversificando suas atividades, produzindo mais jatos executivos e aviões de defesa e prestando mais serviços, como manutenção de aeronaves. Segundo, porque mercados emergentes de aviação, como Ásia e Oriente Médio, estão crescendo mais rápido que o mundo desenvolvido.

Fonte: Valor Econômico