KC-390 Millennium: o cargueiro que recolocou a Embraer no cenário global

 


Um gigante da indústria aeronáutica brasileira

Desenvolvido para substituir os veteranos Lockheed C-130, o KC-390 Millennium é um avião cargueiro militar de última geração, projetado pela Embraer. Seu primeiro voo ocorreu em 2015, e a Força Aérea Brasileira (FAB) incorporou o modelo em 2019. Equipado com dois motores a jato IAE V2500, o KC-390 transporta até 26 toneladas de carga, atinge velocidade de cruzeiro de 870 km/h e possui versões especializadas para reabastecimento em voo, evacuação médica e combate a incêndios. Une a robustez do Hércules ao desempenho de um jato comercial moderno.

Mercado doméstico mais enxuto e estratégico

Inicialmente, a FAB previa a aquisição de 28 unidades, mas renegociou o contrato para 22 e, em 2022, para 19 aeronaves — ainda mantendo o posto de maior operadora global do modelo. Até o fim de 2024, sete exemplares já haviam sido entregues.

Expansão internacional: da OTAN à Ásia

O KC-390 Millennium ganhou tração no exterior, conquistando países-membros da OTAN e outras nações. Veja o avanço:

PaísPedidoSituação Atual
Portugal5Primeiro entregue em 2023 (configuração OTAN)
Hungria2Primeira entrega prevista para set/2024
Países Baixos e Áustria5 + 4Contrato conjunto assinado em 2024
Suécia4 (previsto)Adesão ao acordo NL/AT em 2025
Coreia do Sul3Primeiro cliente da Ásia-Pacífico
República Tcheca2Contrato fechado em out/2024
Cliente não revelado2Anunciado em dez/2024

Somando-se às encomendas nacionais, o cargueiro brasileiro já acumula 42 pedidos firmes, com potencial de novas vendas.

Resultados financeiros impulsionados pelo KC-390

  • Backlog recorde: US$ 26,4 bilhões no 1º trimestre de 2025, aumento de 25% em relação a 2024.

  • Defesa em alta: a divisão Defense & Security cresceu 67%, alcançando US$ 4,2 bilhões em pedidos.

  • Receita: crescimento de 40% em 2024 no segmento de Defesa, comparado a 2023.

  • Rentabilidade: no 3º trimestre de 2024, a receita total aumentou 32%, com destaque para Defesa & Segurança e Aviação Executiva (+65%), resultando em lucro líquido de US$ 221 milhões.

O desempenho permitiu à Embraer recuperar o grau de investimento (BBB‑) pela Fitch, reduzindo o custo de capital e ampliando as possibilidades de financiamento.

O impacto estratégico do KC-390 na Embraer

  • Receita recorrente: contratos incluem serviços como manutenção, suporte logístico e simuladores.

  • Margens superiores: o segmento de Defesa oferece margens mais altas que a aviação comercial, funcionando como amortecedor frente à recuperação lenta do setor regional.

  • Visibilidade de longo prazo: entregas até 2030 garantem previsibilidade de receita.

  • Vitrine tecnológica: operar com países da OTAN fortalece campanhas em mercados estratégicos como Canadá, Índia e EUA (programa "Agile Tanker").

Desafios a serem superados

  • Cadeia de suprimentos: gargalos globais limitam a produção a cerca de 12 aeronaves por ano.

  • Custo-Brasil: dependência de componentes importados expõe o projeto à variação cambial.

  • Orçamento militar: cortes na FAB em 2022 evidenciaram vulnerabilidades fiscais.

Perspectivas promissoras para o cargueiro brasileiro

Com clientes satisfeitos, novas versões especializadas (como reabastecimento dedicado e combate a incêndios) e negociações com mercados estratégicos como Índia e Arábia Saudita, a Embraer estima que mais de 1.500 aviões de transporte médio deverão ser substituídos nos próximos 15 anos. Apenas 1% desse mercado pode representar US$ 1,5 bilhão em receita.

Conclusão

O KC-390 Millennium deixou de ser apenas "o maior avião já construído no Brasil" para se tornar o motor da retomada da Embraer no setor de defesa global. Além de ampliar as exportações e fortalecer a presença da empresa no mercado internacional, o cargueiro contribuiu para margens mais robustas, backlog recorde e o retorno ao investment grade. Ainda há desafios industriais, mas o sucesso do KC-390 comprova que ele decola não apenas das pistas — mas também dos balanços financeiros.

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