Ineficiência diminui a capacidade de aeroporto


Folha de São Paulo
São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Ineficiência diminui a capacidade de aeroporto
Conexão em Guarulhos dura até o triplo do tempo de similar no exterior
Para Infraero, o tempo de conexão "depende das empresas aéreas"; Iata aponta má gestão de pátios e pessoal
MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

Não é só falta de obras. A ineficiência na gestão da aviação civil tem contribuído para a redução da capacidade dos aeroportos e também para o aumento da duração de voos e conexões.
O aeroporto de Congonhas tem um tempo mínimo de conexão de uma hora entre voos domésticos, segundo levantamento feito pela Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo) a pedido da Folha. O aeroporto central de Chicago, o Midway, oferece um tempo de conexão mínimo de 25 minutos.
O tempo mínimo de conexão é um dos principais indicadores de eficiência. É um dado estabelecido pelas companhias aéreas e leva em conta o tempo de liberação de bagagens, de acesso aos terminais, filas na alfândega e na imigração, manutenção das aeronaves, entre outros.
Questionada pela reportagem, a Infraero afirmou que o tempo de conexão "depende basicamente das empresas aéreas".
Na Europa e nos EUA, onde existe competição entre aeroportos, estes costumam se "vender" com base no menor tempo de conexão.
Além das lentas conexões, Congonhas perdeu capacidade após os acidentes da Gol (2006) e da TAM (2007).
Hoje, o aeroporto opera com 38 movimentos de pouso ou decolagem por hora. No Midway, são realizados 64 movimentos/hora. A quantidade bem maior de movimentos em Chicago tem a ver com o tamanho e a quantidade de pistas (cinco).
Mas Congonhas já teve 48 movimentos por hora com duas pistas. "Foi uma redução na canetada", diz o professor de engenharia da USP Jorge Leal.
A falta de eficiência faz aumentar o tempo de voo. É comum voos da ponte aérea durarem uma hora pelo tráfego intenso, enquanto fora do pico é possível fazer o trajeto em 40 minutos.

MAPA DO PÁTIO
Os maiores problemas em Guarulhos e Congonhas, que concentram 25% do tráfego do país, estão localizados no pátio de aeronaves. Mas capacidade não depende apenas de área física.
Há dois anos, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) tentou aumentar a tarifa pelo uso do pátio de Guarulhos para forçar as estrangeiras a deixar os aviões parados no Galeão durante o dia, entre a chegada e a saída dos voos internacionais. Com isso, o pátio seria liberado para mais voos domésticos.
A pedido das estrangeiras, a Iata estudou o mapa do pátio. Redistribuiu as vagas e conseguiu fazer caber mais 12 aviões pelo menos, dependendo do porte. Hoje, o pátio comporta 78 aviões de grande e médio porte.
O aumento da fiscalização da Anac sobre as companhias no caso de atrasos, com multas maiores, também tem contribuído para aumentar a ineficiência nos pátios, afirma Elton Fernandes, professor de engenharia de produção da UFRJ. "Para evitar atrasos e não levar multa, as empresas se protegem e aumentam o tempo de solo das aeronaves."

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